quarta-feira, 17 de maio de 2023

Pequeno fragmento de um dos canhões da Praça do Canhão de Sorocaba é removido para pesquisa científica da USP


Por: Mariana Campos

Secom / Prefeitura de Sorocaba


16/05/2023 | O professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Fernando José Gomes Landgraf, acompanhado do aluno de Engenharia de Materiais da USP, Lucas Camargo Pedroso, e do jornalista e escritor Renato Schroeder, que faz parte do grupo de pesquisa em Arqueometalurgia, esteve no Centro de Sorocaba, nesta terça-feira (16), para remover um pequeno fragmento de um dos canhões da Praça “Arthur Fajardo”, também conhecida como Largo do Canhão, para ser analisado em um projeto de iniciação científica.

O objetivo do projeto é analisar a microestrutura do ferro fundido usado na fabricação dos canhões, em 1840, na então Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, que se localizava na atual Floresta Nacional de Ipanema (Flona), entre os municípios de Iperó, Araçoiaba da Serra e Capela do Alto, a qual, na época, estava sob a direção de João Bloem.

A extração do material de um dos canhões da praça aconteceu, simbolicamente, um dia antes da comemoração do início da Revolta Liberal (17 de maio), que levou os dois canhões para a Praça “Arthur Fajardo”, em 1842. O trabalho foi acompanhado pelo secretário de Cultura de Sorocaba (Secult), Luiz Antonio Zamuner, e pelo analista ambiental da Flona, Luciano Regalado, e contou, ainda, com apoio da Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo).

Essa investigação faz parte de uma das linhas de pesquisa do Departamento de Engenharia Metalúrgica, de Materiais e Nuclear da Escola Politécnica da USP, dedicada à Arqueometalurgia de objetos de ferro, particularmente, aos produtos da Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, que operou entre 1810 e 1919, sendo pioneira na produção siderúrgica no Brasil.

O exame desse fragmento permitirá descobrir se a técnica de produção de ferro fundido usada pelo diretor João Bloem, em 1840, gerava o mesmo defeito que aquela usada desde os tempos do diretor Ludwig Wilhelm Varnhagen, em 1819, que é o chamado “ferro fundido branco” ou “ferro fundido mesclado”. Esse defeito tornava muito mais difícil a usinagem dos produtos da Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, por torná-los muito duros e frágeis.

“Nossa investigação anterior mostrou que a fabricação de um vaso, em 1821, e outro, em 1845, na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, tinha essa característica. Já, um fragmento de escada fabricada em 1884 mostra solidificação do tipo ‘ferro fundido cinzento’, compatível com o uso exclusivo de carvão, utilizada pelo diretor Joaquim de Souza Mursa, enquanto o diretor Varnhagen registrou que usava uma mistura de lenha e carvão”, detalha o professor Fernando José Gomes Landgraf. “É um trabalho importante e original e pretendemos fazer, futuramente, uma publicação em revista internacional sobre essa pesquisa. Encontramos o desenho técnico dos canhões e outros documentos interessantes da época e, em nossos estudos, surgiu a questão se houve impropriedade nesse processo de produção”, explica.


De acordo com o aluno de Engenharia de Materiais da USP, Lucas Camargo Pedroso, esse material retirado do canhão, agora, será levado ao laboratório da universidade. “Faremos o processo de lixamento e polimento desse fragmento e, depois, analisaremos a sua microestrutura em microscópios óptico e eletrônico, para ver a composição química do carboneto, formado por titânio e vanádio e, assim, poderemos interpretar e verificar se há diferença na fabricação desses canhões”, fala o universitário.

“Ter um trabalho de iniciação científica, como essa do professor Fernando e do aluno Lucas, vinculado à USP, que é uma das 60 universidades mais importantes do mundo, com apoio do Município, é muito satisfatório. A Secretaria de Cultura está sempre de portas abertas para essas pesquisas”, destaca o secretário de Cultura de Sorocaba. Além da autorização do Município, a Secretaria de Cultura comunicou previamente o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico, Turístico e Paisagístico de Sorocaba (CMDP) sobre a remoção do material.

Fotos: Secom / Sorocaba

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