sexta-feira, 11 de novembro de 2011

“Trovadores caipiras” entram em ação no III Torneio Estadual de Cururu

Competição será realizada no Teatro Procópio Ferreira nos dias 17, 18 e 19, com entrada franca

Os “trovadores caipiras” estão de volta à Tatuí e ocuparão o mais privilegiado espaço da música erudita com o III Torneio Estadual de Cururu, promovido pelo Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura e Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos. Os desafios à moda de viola são uma das mais importantes tradições do interior de São Paulo e acontecem nos dia 17, 18 e 19 de novembro, sempre às 16h.

A novidade para a edição deste ano será o endereço da competição: o Teatro Procópio Ferreira, que ficou mais de 30 anos sem receber os desafiadores, afinados cantores e violeiros. O torneio é uma das três ações do Festival de MPB, sob a temática “Raiz e Tradição”, com a coordenação do artista e produtor Jaime Pinheiro.

A alteração do local é uma forma de valorização da tradição – os dois primeiros torneios foram realizados na praça da Concha Acústica de Tatuí. Para que os “trovadores” se acostumassem ao novo espaço, dentro do teatro, o Conservatório de Tatuí promoveu duas rodadas de “Esquenta Cururu”.
“Todos se sentiram à vontade, pois estão habituados a tocar em lanchonetes, igrejas, quermesses, bares, chácaras e fazendas. Não seria um palco que os intimidaria, pelo contrário: ficaram bem mais à vontade com uma amplificação bem feita, a plateia observando e torcendo como sempre, porém com a atenção concentrada nos artistas”, explicou Henrique Autran Dourado, diretor-executivo do Conservatório de Tatuí e idealizador do evento.

O Torneio Estadual de Cururu visa a estimular a difusão do Cururu no Estado de São Paulo e pretende integrar os cururueiros e promover o intercâmbio entre eles. Outro objetivo é multiplicar o conhecimento e a divulgação da cultura popular paulista, como forma legítima de expressão da música caipira, a ser preservada em nome da manifestação popular brasileira.

As cidades selecionadas para a primeira eliminatória, no dia 17, são: Botucatu (Dito Moraes e Valdir Boiadeiro), Agudos (João de Lima e Belão), Porto Feliz (Nardinho e Gilmar Ignácio) e Cesário Lange (Zezão Neto e Zé Vitanca). No dia 18, disputam representantes do município de Pardinho (João Zarias e Limo Jacinto), Tatuí (Zacarias Camargo e José Pinto), São Manuel (Celso Martins e Maçarico) e Votorantim (Andinho Soares e Arlindo). Os vencedores de cada dia se enfrentam na finalíssima, no dia 19.
Um júri formado por três pessoas de notório saber e efetiva militância no campo da arte popular serão responsáveis pelo julgamento dos embates. A bancada deverá avaliar itens como “Abertura”, “Interpretação”, “Afinação”, “Ritmo/Entrosamento com o violeiro” e “Presteza na resposta e na sequência do tema sorteado/ Respeito ao tempo delimitado”.

A dupla classificada em primeiro lugar receberá R$ 1 mil. Prêmios de R$ 800, R$ 600 e R$ 400 serão oferecidos às duplas que terminarem em 2º, 3º e 4º lugar, respectivamente. As quatro finalistas também receberão uma ajuda de custo de R$ 500. Todas as duplas ganharão troféus. O Troféu “Pedro Chiquito”, em homenagem a importante cururueiro, será designado pela comissão julgadora. Na última edição, a dupla Moacir Siqueira e João Mazzero (de Piracicaba) foi a grande campeã do torneio.

Cururu
O Cururu é uma das manifestações mais importantes da tradição caipira e tem sua raiz na região do Médio Tietê. As cidades dos cururueiros são Sorocaba, Piracicaba, Votorantim, Piedade, Pilar do Sul, Laranjal Paulista, Araçoiaba da Serra, Itapetininga, Angatuba, Conchas, Pereiras, Porto Feliz, Tietê, Porangaba, Cesário Lange, Boituva, Cerquilho, Tatuí, Itu, Capela do Alto, entre outras.
Os desafios deste estilo de música caipira são bastante informais, ocasionalmente levando em conta as características pessoais. Figura que foge à regra é Andinho Soares, 35, de Votorantim. Cavanhaque, brinco na orelha e tatuagens pelo corpo geralmente não são o estilo dos curureiros, mas, para ele, isso é diferente. Andinho participou do “esquenta” e volta para o torneio. Para ele, o importante é saber “jogar” com as rimas.

“Como eu tenho um visual diferente, todos queriam me ver. E, quando subi no palco, acabaram gostando e eu fui pegando o jeito. Cururu é um aprendizado que nunca termina”, explicou. “Sou roqueiro, mas comecei a escutar cururu com o meu avô. Um dia, faltou um para o desafio e eu fui chamado. Agora sempre participo das rodas de cururu”, completou.
As rimas devem seguir regras específicas: por exemplo, os cantores devem sempre rimar as palavras com as últimas sílabas iguais – essas rimas são denominadas de “carreiras”. No entanto, as palavras seguem sua sonoridade popular. O tema é escolhido pelos próprios cururueiros. “Para mim é fácil, mas não são todas as pessoas que conseguem improvisar. No cururu não existe professor, tem que ter o dom. Você precisa conhecer a Bíblia, geografia, história e muitos outros temas. Por isso, existem apenas quatro curureiros profissionais no Brasil”, contou Manezinho Moreira, 76 anos, que já excursionou por mais de 100 cidades da França devido ao cururu.

Concurso de construção de viola caipira
Na segunda rodada do “Esquenta Cururu”, uma inovação aplicada pelo diretor-executivo do Conservatório de Tatuí foi anunciada para o próximo ano: a quarta edição do já consagrado Concurso Nacional de Luteria “Enzo Bertelli” será realizada na modalidade Viola Caipira.

A categoria é mais uma ação que visa à contemplação da cultura de raiz. No concurso, lutiers deverão enviar suas violas para avaliação e premiação em dinheiro – tal qual ocorreu nas três edições anteriores do concurso, quando as categorias foram “violino” e “violão”.

“A viola caipira é conhecida genericamente como viola de arame e tem dezenas de denominações, a depender da região: viola buriti, viola cabocla, viola cantadeira, viola de feira, viola nordestina, viola sertaneja e, na local, chamada caipira. Existem no Brasil grandes artesãos que precisam também ser valorizados e, como cada biênio o Concurso de Luteria contempla uma área – já tendo sido tema o violino e o violão -, nada mais justo do que mostrar este belo trabalho, entrosando-o com a festa do Cururu”, finalizou Autran Dourado.
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