segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Edmundo Villani-Côrtes: Apaixonado pelo presente

Em entrevista, compositor fala sobre o início da carreira em festivais de Tatuí
Premiado pela qualidade, respeitado pela flexibilidade, adorado pela simpatia. O compositor Edmundo Villani-Côrtes é, atualmente, um dos principais compositores brasileiros. Dono de um acervo composicional de mais de 300 obras escritas para instrumentos solistas, canto solo, coro, conjuntos de câmara, banda sinfônica e orquestra sinfônica, Villani-Côrtes assina uma ópera, duas sinfonias e um “Te Deum”.
Mestre em música pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em música pelo Instituto de Artes da Unesp, Edmundo Villani-Côrtes coleciona prêmios, entre eles quatro vitórias na APCA (Associação Paulista de Crítico de Artes).
Em 1990, recebeu o prêmio de melhor peça erudita vocal (“Ciclo Cecília Meireles”); em 1995, prêmio de melhor peça coral sinfônica (“Postais Paulistanos”); em 1998, melhor peça experimental (“Concerto para Vibrafone e Orquestra”); e, em 2007, melhor pela coral sinfônica (“Te Deum”).
Suas centenas de peças têm sido apresentadas e gravadas por uma grande variedade de intérpretes não só no Brasil mas também em vários outros países. Entre tantas obras, ele também consolida-se como um dos compositores mais importantes da atualidade na música para sopros. Entre os grupos que apresentam suas obras estão a Banda Sinfônica do Estado e a Orquestra de Sopros Brasileira.
Como iniciou na composição?
Nasci em 8 de novembro de 1930 e comecei no violão, depois passei para o piano. A composição surgiu logo quando comecei a lidar com música, ainda no violão. Pode-se dizer que a partir dos 19,20 anos já compunha. Mas minha intenção quando comecei a estudar era tentar ser um pianista razoável – se conseguisse isso já estaria muito bom. Nunca pretendi estudar composição para ser compositor.
Qual é sua relação com bandas sinfônicas?
villani-web
Villani-Côrtes
Ela iniciou-se praticamente em Tatuí e é um caso muito especial. Em 1991, quando fui dar aulas no Festival de Inverno de Campos do Jordão – Núcleo Tatuí, o pessoal que estudava regência com Dario Sotelo teve a ideia de sugerir que eu escrevesse uma peça para os estudantes do festival.
Foi a primeira peça para banda sinfônica que eu escrevi – uma peça para piano e banda estreada pelos alunos e estudantes de música de Tatuí. A partir dessa peça, fiz, naquela época, trabalhos em cinco festivais e toda vez que eu ia, escrevia uma peça para o pessoal. Depois apareceram encomendas… A primeira gravação que tive das minhas peças de maior porte também foi feita por Tatuí, pela Orquestra de Sopros Brasileira, do maestro Dario Sotelo (foi a obra “Djopoi – Abertura”, de 1994). No mesmo disco também uma rapsódia brasileira. Assim, não só meu relacionamento com bandas, mas meu relacionamento com Tatuí é importantíssimo para minha carreira de compositor. E, assim, também queria ressaltar o trabalho do Dario Sotelo, que é um batalhador maestro muito competente, resistente. Ele é o motivo de eu poder ter feito muita coisa para banda, sempre tenho
encomendas, festivais, esse negócio todo… – fico até motivado para escrever. Para mim, tem que olhar sempre para frente. O segredo é o seguinte: temos que guardar do passado só boas lembranças, o presente a gente tem que lutar por ele, fazer o máximo possível, pensando num futuro que sempre é incerto, duvidoso… precisamos nos concentrar no presente.
Como é escrever obras para formações distintas?
Passei muito tempo escrevendo arranjos e trabalhei na Orquestra da TV Tupi e lá na televisão aparecia tudo quanto era coisa na época, era um movimento muito grande de orquestras… eu escrevia diariamente e tinha de desenvolver os arranjos mais estranhos e, sempre, de última hora. Me acostumei com desafios, de ter que escrever peça para orquestra que não conhecia de um dia para o outro. Para mim, o segredo da vida é pegar as coisas difíceis que aparecem e considerá-las naturais. Se na primeira dificuldade você desiste, não dá certo. Depois, é só apreciar os músicos tocando.
Qual sua obra preferida?
Escrevi duas grandes sinfonias, a Sinfonia nº 1 e a Sinfonia nº 2. A número 1 foi escrita em 1997 sob encomenda de Tatuí e a número 2 também, mas ainda não estreou (irá ser estreada neste ano). Não há como dizer qual é a preferida. Cada composição é mais ou menos como se fosse um filho seu, não dá para saber o que é melhor. Acho que quando a gente está fazendo uma peça e escrevendo para essa formação, aquela formação tem que ser a preferida. Tem que gostar daquilo que se está fazendo, se apegar àquilo e considerar aquilo como sendo o último trabalho que vai fazer na vida. Minha fórmula é essa. Sempre tem que fazer o máximo possível em tudo.
O que pensa sobre banda como meio de expressão?
Antes de existir o movimento da banda sinfônica, não havia muitos veículos. É um movimento muito bonito que acaba com aquela ideia de que banda é só para tocar dobrados nos coretos. Hoje, há um repertório especial, com compositores maravilhosos, inclusive no exterior. O coral Da Boca pra Fora apresentou uma missa sua na fase final do Mapa Cultural Paulista… Benedictus é uma parte uma das partes da missa que eu fiz (geralmente as missas têm cinco partes). Eu ainda não ouvi, mas suponho que tenham preparado muito bem. O Cadmo Fausto é muito caprichoso. Eu já tive outras peças no Mapa Cultural Paulista em 2000. A peça de confronto, chamada “Frevo Paulista”, era minha. Foi quando o Da Boca Pra Fora venceu pela primeira vez. Tenho carinho especial por eles e estamos torcendo pela vitória.
Que trabalho está desenvolvendo atualmente?
Neste exato momento estou escrevendo uma peça sob encomenda para o Trio Imagens, que já foi premiado. Fiz uma peça para elas e vou fazer uma versão para banda sinfônica também. A obra chama-se “Coração Latino”.

Revista Cultural do Conservatório de Tatuí
Maio/2008- Ano IV – nº 38

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