terça-feira, 23 de abril de 2019

Estudo mostra agrotóxicos na água que abastece Tatuí

Nenhum agrotóxico foi detectado em concentração acima do limite considerado seguro no Brasil na água de Tatuí entre 2014 e 2017, porém 14 agrotóxicos estão acima acima do limite considerado seguro na União Europeia.

Esdras Pereira, no Cruzeiro do Sul, com adaptação do DT

Do total de fertilizantes lançados próximo a mananciais, 11 estão associados a doenças.

19/04/2019 | Um mapeamento feito entre 2014 e 2017 com dados do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, apontou a existência de 27 tipos de agrotóxicos na água que abastece Tatuí. Do total de substâncias lançadas em plantações próximas a mananciais, 11 estão associadas ao desenvolvimento de doenças como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Além disso, no período analisado, 14 deles encontravam-se acima dos limites considerados seguros pela União Europeia, porém dentro dos limites brasileiros.

Os dados em nível nacional, com possibilidade de pesquisa cidade a cidade, foram divulgados pelo site Por Trás do Alimento em um mapa interativo. O levantamento foi feito durante investigação realizada pela Repórter Brasil, Public Eye e Agência Pública. As informações, que são enviadas por autarquias estaduais, municipais e empresas de abastecimento, foram obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação em abril de 2018. “A lei brasileira determina que os fornecedores de água no Brasil são responsáveis por realizar os testes a cada seis meses e apresentar os resultados ao Governo Federal”, explica a publicação.

Os testes do Sisagua começaram a ser registrados em 7 de abril de 2014 e terminaram em 27 de dezembro de 2017. Dos agrotóxicos encontrados na água de Tatuí e que têm associação a doenças, estão o Alaclor (34 testes positivos para 40 realizados), Atrazina (36/39), Carbendazim (34/35), Clordano (35/39), o DDT+DDD+DDE (34/38), Diuron (34/35), Glifosato (36/38), Lindano (35/39), Mancozebe (34/35), Permetrina (34/39) e Trifluralina (34/39). Outros agrotóxicos encontrados: 2,4D+2,4,5T, Aldicarbe, Aldrin, Carbofurano, Clorpirifós, Endossulfan, Endrin, Metamidofós, Metolacloro, Molinato, Parationa, Metílica, Pendimentalina, Profenofós, Simazina, Tebuconazol e Terbufós.

“O herbicida Alaclor está na lista da Pesticide Action Network avaliado como altamente perigoso. É classificado pela União Europeia como uma substância com evidências de causar distúrbios endócrinos, que afeta o sistema hormonal. Os sintomas da exposição ao agrotóxico são náusea, vômito e enjoo. Nos casos mais graves ocorrem colapso e coma, segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb)”, cita uma das reportagens do Por Trás do Alimento.

O levantamento pode ser acessado pelo link bit.ly/2Dhc6PD

Região Metropolitana de Sorocaba

Pelo mapa, o jornal Cruzeiro do Sul verificou que todos os municípios que compõem a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) tiveram agrotóxicos detectados na água que as abastece. As únicas que não tiveram testes identificando agrotóxicos acima dos limites seguros brasileiros e europeus foram Votorantim, Tapiraí, Salto de Pirapora, Iperó, Araçoiaba da Serra, Araçariguama e Alumínio.

Ocupação agrícola é o problema maior

Os resultados que se evidenciam nos dados do Sisagua têm relação direta com o crescimento da ocupação agrícola na Área de Proteção Ambiental (APA) Itupararanga e o consequente uso de agrotóxicos. É o que afirma ao Cruzeiro do Sul o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenador da Câmara de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), André Cordeiro Alves dos Santos.

O jornal, aliás, denunciou irregularidades na APA em várias reportagens publicadas entre o fim do mês passado e o início de abril. Em um dos textos, foi citada uma dissertação de mestrado concluída em 2017 pela bióloga Fernanda Fernandez Chinaque, para o Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Gestão da UFSCar, que escancarava a evolução da atividade agrícola e de pastagem em seis anos (de 2010 a 2016), na APA. Na tese, a partir de imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a autora aponta que “a agricultura e pastagem quase que dobraram suas áreas, com um aumento superior a 90%”.

De acordo com Cordeiro, os dados divulgados pelo Sisagua não surpreendem. “Já havia desconfiança de que a contaminação por agrotóxicos existia em Itupararanga, afinal a região de Ibiúna, que é a maior porção da bacia do reservatório, é também uma das maiores produtoras de hortaliças, uma cultura que utiliza muito agrotóxico”, declara. “Além disso, o sistema de tratamento de água de Sorocaba é convencional e não dá conta de retirar esse tipo de contaminação. Só reforça o que estamos falando há algum tempo, sobre a necessidade de promover a recuperação das Áreas de Proteção Permanente e do investimento em práticas de agricultura mais sustentáveis na bacia de Itupararanga”, emenda.

A represa de Itupararanga, atualmente, é responsável por mais de 90% do abastecimento de Sorocaba, conforme o especialista. “A contribuição do (reservatório) Ipaneminha é muito pequena e foi diminuindo no decorrer dos anos, justamente em função da perda de qualidade. Depois da crise hídrica de 2014 e 2015, o (reservatório do) Éden foi interligado ao sistema, portanto, quando foram feitas as coletas Itupararanga já respondia por esse porcentual de abastecimento”, explica. (Esdras Felipe Pereira)

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