domingo, 4 de dezembro de 2022

Dia do Samba: músico conta história do samba caipira de Quadra

Com influência africana, o samba caipira é uma antiga tradição do município de Quadra, a mais de 160 quilômetros de São Paulo.

O samba caipira tem influências africanas (Foto: Pixabay / Reprodução)


Do sire itapetininga.temmais, com edição do DT

02/12/2022 - Com origens africanas, o samba caipira é tradição nos municípios do interior paulista. Com danças, batuques e pandeiros, os músicos retratam a vida no interior paulista, a vivência no campo e seus amores.

No Dia Nacional em celebração ao gênero musical, o temmais.com convidou um sambista de Quadra (SP) que é memória viva desta tradição.

Também conhecido como samba de roda, a tradição nasceu com os escravos, conta o sambista Francisco Campos. “Foi por volta de 1850, quando um senhor que trabalhava em uma fazenda de escravos aprendeu com eles o batuque. Aos fins de semana, eles [escravos] podiam fazer as festas originárias da África”.

Conforme explica a pesquisadora Jéssica Raszl, o samba caipira acompanhava manifestações religiosas e festividades. “O branco e o negro caipira realizavam suas festas movidas a samba (…) Depois da celebração religiosa, as festas eram regadas de bebidas alcoólicas e alimentos, além de movimentos culturais e religiosos, por vezes profanos, e o samba de bumbo sempre se fazia presente”, explica a pesquisadora.

O batuque, tradicional dança africana trazida pelos escravos ao Brasil, foi um elemento essencial para a miscigenação cultural e criação do samba, ressalta Jéssica. “Esses elementos foram importantes, pois demonstravam fatores de resistência daquele povo que queria continuar a cultuar a cultura afro por meio de suas danças e também de enraizar uma possível troca cultural entre essas distintas culturas, mas que juntas poderiam formar um grande movimento”.

Samba em Quadra

Aos 60 anos, Francisco é um dos últimos sambistas de Quadra (SP). Integrante do grupo “Filhos de Quadra”, resistiu para manter viva a tradição do samba caipira.

Seu contato com o grupo foi ainda adolescente, relembra. “Por volta dos 13 a 15 anos, eles [o grupo de samba] faziam as ‘sambadas’ no sítio. Um dia na casa de um, no dia seguinte na casa de outro. Juntava os colegas e íamos. Aí ficou na memória”.

As lembranças das ‘sambadas’ na juventude que fizeram Francisco ‘entrar na roda’. “No anos 2000, o grupo decidiu voltar a tocar, após um tempo parado. E juntou bastante gente e foi nessa época que eu entrei”.

Notas sobre o interior

Cantando sobre o cotidiano do interior paulista, o samba caipira também abordava temas românticos, relembra o sambista. “As mais antigas falavam de namoro, de mulheres. As mais novas sobre a evolução da tecnologia”, comenta.

Músicos à frente e casais dançando atrás, sempre em posição de roda. Esta é a formação das festas do samba caipira, popularmente chamadas de ‘sambadas’.

“No auge, eram oito pessoas, tocando pandeiro, reco-reco, sambão, que é um tipo de um pandeiro maior, além da caixa”, explica Francisco, que tocava o instrumento sambão.

Instrumentos foram doados à Secretaria de Cultura de Quadra (Foto: Divulgação)


Memória

Hoje, as ‘sambadas’ do grupo “Filhos de Quadra” ficam na memória. “Infelizmente não voltamos mais. Éramos oito, alguns foram saindo e outros, infelizmente, falecendo. Vejo isso com muita tristeza, você sabe que vai ficar na memória, o que sobrou foram registros em CDs e DVDs. É o que vai ficar”, lamenta Francisco.

Dia Nacional do Samba

A data é celebrada em todo o país desde 1963, explica a pesquisadora Jéssica Raszl. “Esse dia foi marcado por ser a data em que Ary Barroso visitou a capital baiana pela primeira vez. Compositor de clássicos como ‘Aquarela do Brasil’ e ‘Na Baixa do Sapateiro’, ele nunca havia visitado a Bahia. Logo após isso, a festa se espalhou pelo país e se tornou uma comemoração nacional”.

Grupo “Filhos de Quadra” guardam histórias do samba caipira na memória (Foto: Arquivo pessoal)

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