Sítios tatuianos foram destruídos. Arqueólogo fala sobre ocupação indígena no município.
Por O Progresso
Peneiramento do solo para identificação de vestígios arqueológicos, uma das atividades do arqueólogo em campo (foto: A Lasca Arqueologia)
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21/04/2018 - Reconhecidos como parte integrante do patrimônio cultural brasileiro pela Constituição Federal de 1988, os bens de natureza material de valor arqueológico são definidos e protegidos por lei.
Enquadrados nessa condição, como bens patrimoniais da União, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tem registrado, em Tatuí, dois sítios arqueológicos no CNSA (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos).
A informação foi divulgada pela empresa A Lasca Arqueologia, que realiza buscas e estuda a região, verificando se há presença de novos sítios.
Segundo o arqueólogo Luiz Fernando Erig Lima, os sítios “Alpargatas” e “Guarapiranga” estão localizados dentro do município e são associados a grupos indígenas.
Na arqueologia, esses naturais, explica o especialista, são identificados como integrantes da tradição tupi-guarani e poderiam ter vivido entre os anos de 200 a.C até a época do contato com o europeu, no século 16.
O profissional explica que os sítios derivam de arqueologia de projetos e de contrato com empreendimentos que visam explorar novas áreas.
Segundo as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente e de uma série de outras resoluções das quais o Brasil é signatário, o país tem a responsabilidade de salvaguardar o patrimônio arqueológico e histórico.
“Qualquer área que vá sofrer um impacto permanente requer um estudo de impacto ambiental e, consequentemente, um relatório. As atividades envolvem geólogos, geomorfólogos, botânicos, biólogos e arqueólogos”, explica Lima.
Segundo o portal do Iphan, o sítio Alpargatas, localizado próximo ao ribeirão Pederneiras, registrado em fevereiro de 1984, já se encontra destruído. Nele, foram encontrados materiais de cerâmica, com ocorrência de urna funerária contendo material ósseo.
O Guarapiranga está localizado em área de 10 mil metros quadrados, próxima ao rio Iperó, sendo classificado como “cerâmico a céu aberto”. Também se encontra destruído, sendo registrado em dezembro de 1899.
“Eles estariam associados a grupos indígenas que, na arqueologia, chamamos de tupi-guarani, cujas datações em vários sítios associados a essa tradição poderiam datar de 200 A.C até a época do contato europeu, no século 16”, conta Lima.
A localização dos dois sítios não é exata, pois foram registrados sem a geolocalização, que demostra o ponto preciso onde os pertences dos índios estariam.
Tradição é quando uma série de sítios apresentam as mesmas características materiais, no mesmo espaço de tempo por uma grande extensão geográfica, que é o caso dos tupis-guaranis.
“Podemos encontrar vestígios desse grupo desde o Rio Grande do Sul até o Nordeste. A teoria arqueológica definiu as tradições nos anos 70, dentro do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas”, completou.
Lima acredita que ambos os sítios estavam a céu aberto, sendo muito comum serem encontrados em planícies aluviais, topos de colinas e meia-encosta de colinas, locais onde estariam localizadas as aldeias desses grupos.
“O enterramento em urna era uma prática comum. Podia ser de forma primária, onde o cadáver era colocado com o corpo completo dentro da urna; ou secundária, quando deixavam o cadáver se deteriorar e, posteriormente, os ossos eram lavados e guardados em urnas menores”, explicou.
O arqueólogo disse que, para saber o local exato da aldeia e onde as urnas foram encontradas, é preciso localizar o pesquisador responsável pelo registro dos sítios.
(foto: A Lasca Arqueologia) |
A profundidade varia, podendo o artefato ser encontrado na superfície, fato comum em áreas agrícolas, em terrenos arados e onde são encontrados fragmentos cerâmicos e artefatos de pedra lascada ou polida. Também podem estar a até dois metros de profundidade, em caso de sepultamento.
“É o nosso passado e o nosso patrimônio. Estudar esse assunto é uma questão de memória e faz parte das nossas raízes”, defendeu Lima, sobre a importância da preservação e o registro do material encontrado.
Outras etnias
Lima reforça a necessidade de outros locais serem explorados e que não seria verdade que o Brasil era pouco ocupado. Segundo ele, a população indígena era muito grande.
“Na região do entorno de Tatuí, podemos encontrar sítios arqueológicos associados a outras ocupações pré-coloniais, como em Itararé, associados aos índios jês, até a década de 20 e 30. Havia nessa região os grupos kaingang, que se opunham ao avanço das frentes de fazenda de café e das ferrovias”, conta o arqueólogo.
Sobre esse grupo, o profissional informa que as tribos eram menores. Elas confeccionavam cerâmica mais delicada, com paredes mais finas e escurecidas, além de terem o costume de queimar os cadáveres.
Os índios também possuíam habilidades para construção de estruturas monumentais, como aterros funerários, casas subterrâneas, círculos de terra e alinhamento de blocos de rochas.
“Ainda podemos encontrar nessa região ocupações mais antigas, associadas a grupos caçadores e coletores. Em literatura, a gente associa as tradições umbu e humaitá, que não conheciam cerâmica, e tudo vinha da caça, pesca e agricultura incipiente”, detalha o pesquisador.
“Viveram há dez mil anos, até o advento dos grupos ceramistas, no começo da era cristã. Os umbus caracterizavam-se pela presença de ponta de projétil, as pontas de flechas com pedra lascada”, acrescenta.
Segundo o pesquisado, ainda há muito que se encontrar, e algumas cidades do Estado de São Paulo ainda não possuem nenhum registro de sítio arqueológico catalogado.
Passado indígena
Historiadores afirmam que, antes da chegada dos europeus à América, havia aproximadamente cem milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegaria a 5 milhões de nativos.
Estes índios brasileiros estavam divididos de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi-guarani (região do litoral), macro-jê ou tapuia (Planalto Central), aruaque e caraíba (Amazônia).
Atualmente, calcula-se que 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo federal.
São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem a identidade cultural.
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