segunda-feira, 23 de abril de 2018

Tatuí possui dois sítios arqueológicos catalogados pelo Iphan

Sítios tatuianos foram destruídos. Arqueólogo fala sobre ocupação indígena no município.


Peneiramento do solo para identificação de vestígios arqueológicos, uma das atividades do arqueólogo em campo (foto: A Lasca Arqueologia)


21/04/2018 - Reconhecidos como parte integrante do patrimônio cultural brasileiro pela Constituição Federal de 1988, os bens de natureza material de valor arqueológico são definidos e protegidos por lei.

Enquadrados nessa condição, como bens patrimoniais da União, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) tem registrado, em Tatuí, dois sítios arqueológicos no CNSA (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos).

A informação foi divulgada pela empresa A Lasca Arqueologia, que realiza buscas e estuda a região, verificando se há presença de novos sítios.

Segundo o arqueólogo Luiz Fernando Erig Lima, os sítios “Alpargatas” e “Guarapiranga” estão localizados dentro do município e são associados a grupos indígenas.

Na arqueologia, esses naturais, explica o especialista, são identificados como integrantes da tradição tupi-guarani e poderiam ter vivido entre os anos de 200 a.C até a época do contato com o europeu, no século 16.

O profissional explica que os sítios derivam de arqueologia de projetos e de contrato com empreendimentos que visam explorar novas áreas.

Segundo as resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente e de uma série de outras resoluções das quais o Brasil é signatário, o país tem a responsabilidade de salvaguardar o patrimônio arqueológico e histórico.

“Qualquer área que vá sofrer um impacto permanente requer um estudo de impacto ambiental e, consequentemente, um relatório. As atividades envolvem geólogos, geomorfólogos, botânicos, biólogos e arqueólogos”, explica Lima.

Segundo o portal do Iphan, o sítio Alpargatas, localizado próximo ao ribeirão Pederneiras, registrado em fevereiro de 1984, já se encontra destruído. Nele, foram encontrados materiais de cerâmica, com ocorrência de urna funerária contendo material ósseo.

O Guarapiranga está localizado em área de 10 mil metros quadrados, próxima ao rio Iperó, sendo classificado como “cerâmico a céu aberto”. Também se encontra destruído, sendo registrado em dezembro de 1899.

“Eles estariam associados a grupos indígenas que, na arqueologia, chamamos de tupi-guarani, cujas datações em vários sítios associados a essa tradição poderiam datar de 200 A.C até a época do contato europeu, no século 16”, conta Lima.

A localização dos dois sítios não é exata, pois foram registrados sem a geolocalização, que demostra o ponto preciso onde os pertences dos índios estariam.

Tradição é quando uma série de sítios apresentam as mesmas características materiais, no mesmo espaço de tempo por uma grande extensão geográfica, que é o caso dos tupis-guaranis.

“Podemos encontrar vestígios desse grupo desde o Rio Grande do Sul até o Nordeste. A teoria arqueológica definiu as tradições nos anos 70, dentro do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas”, completou.

Lima acredita que ambos os sítios estavam a céu aberto, sendo muito comum serem encontrados em planícies aluviais, topos de colinas e meia-encosta de colinas, locais onde estariam localizadas as aldeias desses grupos.

“O enterramento em urna era uma prática comum. Podia ser de forma primária, onde o cadáver era colocado com o corpo completo dentro da urna; ou secundária, quando deixavam o cadáver se deteriorar e, posteriormente, os ossos eram lavados e guardados em urnas menores”, explicou.

O arqueólogo disse que, para saber o local exato da aldeia e onde as urnas foram encontradas, é preciso localizar o pesquisador responsável pelo registro dos sítios.
(foto: A Lasca Arqueologia)

A profundidade varia, podendo o artefato ser encontrado na superfície, fato comum em áreas agrícolas, em terrenos arados e onde são encontrados fragmentos cerâmicos e artefatos de pedra lascada ou polida. Também podem estar a até dois metros de profundidade, em caso de sepultamento.

“É o nosso passado e o nosso patrimônio. Estudar esse assunto é uma questão de memória e faz parte das nossas raízes”, defendeu Lima, sobre a importância da preservação e o registro do material encontrado.

Outras etnias

Lima reforça a necessidade de outros locais serem explorados e que não seria verdade que o Brasil era pouco ocupado. Segundo ele, a população indígena era muito grande.

“Na região do entorno de Tatuí, podemos encontrar sítios arqueológicos associados a outras ocupações pré-coloniais, como em Itararé, associados aos índios jês, até a década de 20 e 30. Havia nessa região os grupos kaingang, que se opunham ao avanço das frentes de fazenda de café e das ferrovias”, conta o arqueólogo.

Sobre esse grupo, o profissional informa que as tribos eram menores. Elas confeccionavam cerâmica mais delicada, com paredes mais finas e escurecidas, além de terem o costume de queimar os cadáveres.

Os índios também possuíam habilidades para construção de estruturas monumentais, como aterros funerários, casas subterrâneas, círculos de terra e alinhamento de blocos de rochas.

“Ainda podemos encontrar nessa região ocupações mais antigas, associadas a grupos caçadores e coletores. Em literatura, a gente associa as tradições umbu e humaitá, que não conheciam cerâmica, e tudo vinha da caça, pesca e agricultura incipiente”, detalha o pesquisador.

“Viveram há dez mil anos, até o advento dos grupos ceramistas, no começo da era cristã. Os umbus caracterizavam-se pela presença de ponta de projétil, as pontas de flechas com pedra lascada”, acrescenta.

Segundo o pesquisado, ainda há muito que se encontrar, e algumas cidades do Estado de São Paulo ainda não possuem nenhum registro de sítio arqueológico catalogado.

Passado indígena

Historiadores afirmam que, antes da chegada dos europeus à América, havia aproximadamente cem milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegaria a 5 milhões de nativos.

Estes índios brasileiros estavam divididos de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi-guarani (região do litoral), macro-jê ou tapuia (Planalto Central), aruaque e caraíba (Amazônia).

Atualmente, calcula-se que 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo federal.

São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem a identidade cultural.

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