sexta-feira, 20 de setembro de 2019

crônica | Ana Moraes

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O retrovisor

No meio do trânsito, às vezes, passam alguns veículos com letras que só são lidas da maneira correta se vistas pelos retrovisores, pois são letras espelhadas, como: UMAS, AICÍLOP, ETAGSER, entre outros. Essas palavras parecem até pertencer a outra língua, mas tudo fica mais claro sob a ótica de um espelho.

Os espelhos são instrumentos poderosos, tão poderosos que podem mudar o jeito das pessoas pensarem e até tirar vidas, como o caso de Narciso que definhou por olhar sua própria imagem no reflexo da lagoa de Eco, até que foi transformado em uma flor por Afrodite. O espelho é um instrumento antigo na história do ser humano, sendo alguns datados do quinto milênio a.C.

O próprio fenômeno que ocorre no espelho transcende o seu próprio significado para um constructo psicológico: a reflexão. Uma palavra forte e ressoante, que nos remete a nossa natureza intrínseca diante da exterioridade que nos atinge. A reflexão é um ato constante na vida do ser humano, o que o faz, até agora, um ser único apesar de muitas atitudes humanas parecerem mal refletidas.

Assim como se olha as coisas pelo retrovisor e as entende com mais clareza, como as palavras espelhadas, se entende também o passado. A Teoria da Relatividade especial do físico alemão Albert Einstein (1879-1955) diz que os fenômenos observados são frutos do passado e nada é efetivamente o presente.

A pista é o tempo, o que está atrás, o passado, a frente, o futuro, e no carro, o presente. No entanto, apenas entende-se algumas coisas quando olhamos do futuro para trás, isto é, paradoxalmente o futuro explica o passado, quando muitas vezes o passado parece explicar o futuro. Ou seja, só entende-se realmente o passado, quando deixa-se o tempo passar e então tudo se encaixa como um quebra-cabeça, onde as peças não vêm contadas e parecem se encaixar, muitas vezes, de maneira bem difícil.

E assim, morando dentro do espelho, age a reflexão. Muitas vezes, provoca mudanças e inflexão, as quais, além de evocar a compreensão, possibilita ver o passado em várias perspectivas. No entanto, tudo depende da escolha, pois pode-se olhar no espelho e ver apenas um reflexo, mas se olhar para um espelho com sabedoria, pode-se ver uma reflexão.

A.M.O.R.

(Ana Moraes de Oliveira Rosa)

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