domingo, 14 de novembro de 2010

História do Conservatório de Tatuí - 4

4. Reestruturação e novas diretrizes

No ano de 2008, o Conselho de Administração da Organização Social aprovou o nome de Henrique Autran Dourado para se tornar o novo diretor executivo, liderando uma nova equipe diretiva da Associação de Amigos do Conservatório de Tatuí. O grupo foi completado tendo Dalmo Magno Defensor na diretoria administrativo-financeira, Antonio Tavares Ribeiro como assessor pedagógico, Erik Heimann Pais como assessor artístico e Rodrigo Patini como assessor executivo.
Henrique Autran Dourado chegou a Tatuí com a missão de coordenar uma reestruturação completa da escola e gerir um orçamento anual de mais de R$ 20 milhões.
Desde sua fundação, a importância do Conservatório de Tatuí fez com que a cidade passasse a ser conhecida e associada à música em todo o Brasil, e não por acaso: além de alunos de São Paulo, o Conservatório abriga estudantes de dezenas de Estados brasileiros além de vários países do Mercosul. Tal fama foi oficializada em 2007 por uma lei que torna Tatuí a “Capital da Música” do Estado de São Paulo. Por conta disso, a prefeitura tem implantado no município marcos que identificam a cidade ao título, como esculturas retratando músicos que aqui atuaram, mosaicos estilizados e placas informativas e turísticas.
Uma das áreas cruciais a serem revistas era a administrativa, a cargo de Dalmo Defensor, que entrou para a equipe em junho de 2008, assumindo a Direção Administrativo e Financeira. Uma das questões mais importantes e de maior impacto enfrentada pela área administrativo-financeira foi a regularização do regime de trabalho dos profissionais da escola. À exceção dos funcionários da parte administrativa, os cerca de 250 professores, músicos e atores que trabalhavam para o conservatório eram vinculados pelo sistema de cooperativas. Procurando melhorar as condições de trabalho, optou-se por contratá-los em regime de CLT. Após negociação com professores e cooperativas realizou-se um processo seletivo a que todos tiveram que se submeter e a partir de janeiro de 2009 passou a vigorar no Conservatório de Tatuí um novo regime de trabalho para todos.
Se a estrutura administrativa era um dos eixos principais do conservatório a serem reestruturados, os outros eram: a parte artística e a pedagógica. A primeira ficou a cargo de Erik Heimann Pais, saxofonista formado pelo Conservatório de Tatuí e que há anos trabalha na casa. Até assumir na nova gestão a função de assessor artístico, era professor e coordenador da área de sopros.
A primeira grande transformação por que passou a área artística foi a reestruturação do sistema de bolsas de estudo que eram vinculadas aos grupos. A partir de agora, não existe apenas uma, mas sim três modalidades de bolsas, que visam preencher diferentes necessidades dos alunos. Para os de baixa renda que necessitam de auxilio para manter seus estudos foi criada a “bolsa-auxílio”, de R$ 415. Ela tem o menor valor, pois não exige do estudante nenhuma contrapartida a não ser um desempenho acima da média nos seus cursos principais.
Já para os alunos interessados em estagiar seu futuro ofício – que não se configura em trabalho, mas sim em algo que faz parte de sua formação – há dois patamares de bolsa. O primeiro é a de “ofícios-correlatos”, de R$ 470 e com uma contrapartida de seis horas de atividades semanais orientadas, para aqueles alunos que têm o interesse de aprender ou praticar ofícios relacionados à formação de músico ou ator, como iluminação, luteria etc. O segundo é a “bolsa-performance”, de R$ 700, destinada a alunos que querem se especializar em tocar ou atuar. Ela visa estimular o profissionalismo através de uma espécie de estágio remunerado. O aluno atuará nos grupos artísticos junto com profissionais.
O primeiro processo seletivo foi feito em meados de 2008, e a partir de 1º de setembro do mesmo ano estas bolsas entraram em vigor. Foram oferecidas 232, sendo preenchidas 211 delas.
Paralelamente à reestruturação das bolsas de estudo, foram repensados os grupos artístico-pedagógicos (aqueles em que atuam juntos profissionais e estudantes). Foi instituído um esquema de isonomia salarial, com salários iguais para as mesmas funções, e criados grupos em áreas que não havia, de forma que todo o conservatório pudesse estar artisticamente representado.
Desde 2009 os grupos artístico-pedagógicos empregam cerca de 200 profissionais entre músicos, atores e cantores. Com a reestruturação, o número desses conjuntos cresceu de cinco para onze. À Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí (Orquestra de Sopros Brasileira), Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí (Orquestra Sinfônica Paulista), Big Band do Conservatório de Tatuí (Big Band SamJazz), Coro do Conservatório de Tatuí (Coral Da Boca Pra Fora) e Grupo de Choro do Conservatório de Tatuí (Grupo de Choro Quebrando Galho), que já eram reconhecidos como grupos artístico-pedagógicos, somaram-se o Grupo de Percussão do Conservatório de Tatuí (Grupo Percussionista de Câmara), a Camerata de Violões do Conservatório de Tatuí (Camerata Octopus de Violões), o Grupo de Performance Histórica (Grupo de Música Antiga), o Grupo de Pianistas Correpetidores, a Jazz Combo do Conservatório de Tatuí (Cambanda Jazz Combo) e a Companhia de Teatro do Conservatório de Tatuí (Grupo Teatral Novas Tendências). Eles têm entre 25% e 54% de participação de alunos, que foram selecionados para receber a bolsa-performance. Ao todo, esses conjuntos reúnem 97 bolsistas.
Além dos 11 grupos artístico-pedagógicos, o Conservatório de Tatuí conta com dezenas de grupos pedagógicos, que juntos fazem representar todas as áreas da escola. Desde 2009 eles foram inseridos dentro da grade curricular como matéria obrigatória, servindo de estímulo e experiência aos alunos que, no futuro, pretendem pleitear uma bolsa de estudos.
Completando o tripé da instituição está sua estrutura pedagógica, de importância crucial e que ao final justifica a existência de todo o restante. Antonio Ribeiro, professor e compositor com experiência na área juntou-se à nova equipe do Conservatório de Tatuí em abril de 2008, e a partir de então é o assessor pedagógico da casa. Foi feito de imediato um diagnóstico básico da situação para que se pudessem estabelecer estratégias de ação. Assim, de abril a junho ocorreu um grande recenseamento, com a pretensão de englobar todos os alunos, professores e cursos, com suas respectivas disciplinas e carga horária. O levantamento permitiu que se começasse a montar um cronograma a ser aplicado a partir do primeiro semestre de 2009.
Além de ações já descritas e que também envolvem a área pedagógica, como a concessão de bolsas, foram reestruturadas a carga horária dos professores e o edital que regulamenta a estada de alunos e professores no alojamento do conservatório, bem como tomadas ações para incrementar a segurança do local.
Mais um importante passo iniciado em 2008 foi a elaboração do novo regimento do Conservatório de Tatuí. O último datava de 1971 e não era mais observado, o que também explica a falta de parâmetros que se notava em muitas áreas. Em paralelo ao regimento, foi redigido o Plano Político-Pedagógico, documento que norteia as ações desta nova gestão pelos próximos anos. Entre as mudanças anunciadas por este documento destaca-se a fusão das grandes áreas “MPB/Jazz” e “Música comercial” - que, unificadas, voltam a ter o nome original MPB/Jazz –, e a criação do Departamento de Performance Histórica.
O Conservatório de Tatuí é dividido em três grandes áreas: 1. música de concerto, englobando todos os instrumentos de orquestra e banda sinfônica mais canto, violão, piano, luteria de cordas, regência coral e instrumental; 2. música popular, com disciplinas como canto, guitarra, contrabaixo, bateria, cavaquinho, clarinete, flauta, teclado, piano entre outros; 3. teatro, que além de aulas de atuação propriamente dita ainda tem os cursos de historia do teatro, dramaturgia, cenografia, figurino etc.

Dentro das três grandes áreas existem os departamentos, tais como cordas, sopros, teatro etc., num total de 14. Cada um deles conta com um coordenador pedagógico, e alguns são bem maiores do que outros: o de sopros, por exemplo, tem grandes dimensões, retrato tanto da herança dos fundadores da casa como da tradição de bandas existente não apenas em Tatuí mas em todo interior do Estado. Equacionar os departamentos de forma a torná-los mais igualitários é uma das preocupações da atual gestão.
Desde 2009 a duração dos cursos foi remodelada e cada instrumento passou a ter uma duração de curso própria, pensado de forma ideal: quanto tempo um aluno de determinado instrumento deve permanecer na escola para sair preparado para o mercado de música. Isso porque, independente da existência de uma etapa acadêmica de sua formação, o conservatório deve formá-lo enquanto profissional técnico.
Com o objetivo de aumentar o diálogo entre as áreas, Antonio Ribeiro explica que a nova estrutura pedagógica estabelece disciplinas básicas que todo aluno de determinada área deve fazer. Porém, outras também serão oferecidas, e um aluno de música de concerto, por exemplo, ainda terá a opção de, além de cursar harmonia (matéria obrigatória), assistir a aulas de arranjo em MPB. A idéia é que este intercâmbio se estenda a todas as áreas, incluindo o teatro.
Esta interação é essencial para a concretização de outra das intenções da nova gestão: a criação de núcleos de ópera e de musicais. Tal iniciativa contaria com a grande vantagem do Conservatório de Tatuí já possuir, separadamente, todos os elementos necessários para a empreitada: a existência de cursos de música, dramaturgia, cenografia, iluminação, de conjuntos sinfônicos e de um teatro adequado que possui, inclusive, fosso de orquestra.


Texto de Camila Frésca
Fontes de pesquisa:
ENSAIO MAGAZINE – revista cultural do Conservatório de Tatuí (números diversos de 2007 e 2008).
OLIVEIRA, Deise Juliana de. “Salzburg brasileira, Lüneburg paulistana”. Texto cedido pela autora.
Site do Conservatório de Tatuí: http://www.conservatoriodetatui.org.br/index.php
Site da Associação Artístico Cultural Atravez: http://www.atravez.org.br/ceem_6/encontro.htm
Entrevistados: Antonio Tavares Ribeiro, Dalmo Defensor, Erik Heimann Pais, Henrique Autran Dourado, Javier Calvino, Luigi Bertelli e Rodrigo de Resende Patini.
Depoimento: Yara Caznok
Fornecimento de dados: Deise Juliana de Oliveira

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