Por g1 Itapetininga e região
![]() |
Polícia conclui que Milton de Oliveira Junior forjou ameaças para influenciar eleição — Foto: Reprodução/TV TEM |
22/07/2025 19h42 | A Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Itapetininga (SP) concluiu que o candidato a prefeito Milton de Oliveira Junior (PL) forjou uma ameaça com suposto envolvimento de facção criminosa para influenciar o resultado das eleições municipais de 2024. O relatório final do inquérito policial foi encaminhado ao Ministério Público, que pode oferecer denúncia.
A investigação começou após o próprio Milton Jr., candidato pelo PL, e a coligação “Coragem para Mudar” denunciarem o recebimento de mensagens caluniosas e ameaçadoras por meio do WhatsApp. Segundo eles, as mensagens sugeriam uma trama criminosa para fraudar o pleito, com participação de integrantes do crime organizado e de autoridades públicas.
No entanto, diligências conduzidas pela DIG, incluindo quebra de sigilo de dados e análise técnica de celulares, indicaram que a denúncia foi forjada pelo próprio candidato, com apoio do também investigado Eliabe Venâncio Aires Gonçalves, aliado político de Milton.
Indícios e contradições
De acordo com o relatório da Polícia Civil, o número emissor das mensagens estava salvo nos contatos de Milton antes mesmo da data em que ele afirmou ter recebido as ameaças. A conta de WhatsApp e o chip utilizados estavam vinculados a e-mails pessoais dos investigados, inclusive com autenticação em dois fatores.
A investigação também mostrou que havia troca de mensagens anterior entre os investigados e o número emissor, além de conversas que apontam planejamento de compra de votos, manipulação de enquetes e criação de identidade falsa para registrar o chip usado nas ameaças.
O próprio Eliabe confessou, em depoimento, que criou e entregou o aparelho utilizado para envio das mensagens a um terceiro ligado a Milton Jr. Segundo a DIG, há contradições entre os depoimentos de Milton e os dados extraídos dos celulares, inclusive em relação ao acesso a contas bancárias e e-mails usados na operação.
Os IPs rastreados nas mensagens também foram localizados em endereços profissionais de Milton Jr., o que enfraquece a versão apresentada inicialmente por ele.
Possível crime eleitoral
A conduta atribuída a Milton pode configurar o crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral, previsto no artigo 326-A do Código Eleitoral. A pena é de reclusão de 2 a 8 anos quem provoca a instauração de investigação contra pessoa sabidamente inocente com objetivo político ou eleitoral.
Segundo a DIG, há fortes indícios de autoria e materialidade. A participação de Eliabe também é considerada relevante, mas a polícia entendeu que ele não deu causa direta à abertura do inquérito. Ainda assim, poderá responder por crimes como falsidade ideológica, uso de documento falso, associação criminosa e fake news com finalidade eleitoral.
Inelegibilidade e impacto político
O relatório da Polícia Civil também destaca que Milton Jr. já foi condenado à inelegibilidade por oito anos, em decisão da Justiça Eleitoral, por abuso de poder nas eleições de 2024. Segundo a autoridade policial, o novo episódio reforça uma conduta reiterada e desvio de finalidade no uso da estrutura de campanha.
O documento recomenda cautela na concessão de eventuais benefícios penais, como acordos de não persecução, diante da gravidade do caso e do impacto institucional provocado pela tentativa de manipulação da opinião pública e do sistema eleitoral.
O que dizem os investigados
Em nota, publicada nas redes sociais e enviada ao g1, Milton Junior afirmou que o conteúdo divulgado no relatório policial do “inquérito dos prints” não apresentou qualquer materialidade probatória, e que o delegado teria se fundamentado apenas no depoimento de Eliabe, também investigado.
“O delegado cometeu erro grosseiro ao tentar ligar endereços de IP a empresa da qual sou diretor (confundiu rádios concorrentes), não apresentou qualquer laudo comprovando sua tese de que os prints eram falsos e desconsiderou perícia profissional que atestou a legitimidade dos arquivos. Também se fez valer de provas que foram obtidas de forma ilegal, com quebra de cadeia de custódia atestada por perícia”, informou Milton Junior.
“O delegado responsável responde a duas representações na Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo por abuso de autoridade somente neste inquérito”, continuou.
Enquanto Eliebe, por meio do advogado, informou que o relatório policial não apresentou, até o momento, nenhum documento de materialidade envolvendo-o no caso. “A autoridade policial se fundamentou apenas em depoimentos feitos sob uma suposta de coação em sede policial não condizente com a realidade dos fatos”, diz a nota.
A defesa, por ora, aguarda o desfecho das denúncias feitas junto ao Ministério público do Estado de São Paulo pela suposta prática de abuso de autoridade dentro da própria ação acima mencionada”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário