quinta-feira, 17 de julho de 2025

Celso de Mello critica 'arrogância imperial' de Donald Trump

Democracia e soberania

Advocacia - no Consultor Jurídico com edição do DT

15 de julho de 2025, 19h33 |  O ministro aposentado Celso de Mello, tatuiano ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, elogiou o artigo do advogado Marcus Vinícius Furtado Coelho, presidente da Comissão de Estudos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil, sobre o “tarifaço” anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil — o artigo foi publicado originalmente no Estadão. O magistrado considera que as ameaças do americano para tentar salvar a pele do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são ofensivas à soberania nacional.

Gage Skidmore/Wikimedia Commons

Celso de Mello fez duras críticas ao presidente dos EUA, Donald Trump

“Além de preciso e substancioso, (o texto) fere, com propriedade, os principais pontos (equivocados) da carta (virtual) do presidente Trump, cuja desmedida arrogância imperial leva-o a considerar-se um absurdo ‘imperator mundi’, certamente embriagado pela ‘hybris’ grega, capaz de despertar a ‘ira dos deuses’!!!”, escreveu o ministro.

Em seu texto, intitulado “Democracia e soberania não se negociam”, o advogado aponta as mentiras da carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e rechaça a tentativa do americano de interferir em assuntos internos do Brasil — mais precisamente, a ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que tramita no Supremo Tribunal Federal por causa do golpe de Estado de 2022.

Leia a seguir a íntegra da manifestação do ministro Celso de Mello:

“Prezado Dr.
MARCUS VINICIUS, EXCELENTE O CONTEÚDO DO SEU TEXTO COMO PRESIDENTE DA COMISSÃO CONSTITUCIONAL DA OAB NACIONAL!

ALÉM DE PRECISO E SUBSTANCIOSO, FERE, COM PROPRIEDADE, OS PRINCIPAIS PONTOS (equivocados) DA CARTA (VIRTUAL) DO PRESIDENTE TRUMP, CUJA DESMEDIDA ARROGÂNCIA IMPERIAL LEVA-O A CONSIDERAR-SE UM ABSURDO ‘IMPERATOR MUNDI’, certamente embriagado pela ‘hybris’ grega, capaz de despertar a ‘ira dos Deuses’!!!

Após quase 5 (cinco) meses no exercício da Chefia de Estado e de Governo dos EUA, o Presidente Donald Trump tem demonstrado, de modo inequívoco, por ações, gestos e declarações, (a) que desconhece a História (e que, por isso mesmo, está fadado a repetir-lhe os erros), (b) que revela ultrajante menosprezo pela dignidade de Povos e grupos vulneráveis, (c) que transgride princípios fundamentais que moldaram as relações internacionais dos Estados modernos, como aqueles consagrados pelos importantes Tratados de Paz de Westfália, de 1648, (d) que desrespeita a Carta de São Francisco de 1945 (ONU), no ponto em que proclama a igualdade soberana dos Estados nacionais (Artigo 1, n. 2, e Artigo 2, n. 1), (e) que descumpre (veja-se o caso do canal do Panamá) o postulado básico da boa-fé e do respeito aos tratados e convenções internacionais (‘pacta sunt servanda’), proclamado pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados (Artigo 26), entre outros expressivos valores que iluminam e fortalecem o catálogo dos direitos e liberdades essenciais da pessoa humana e que ordenam as relações no plano internacional entre Estados soberanos!

CONSIDEREI extremamente apropriada a sua referência a Vidkun QUISLING (1887-1945), que governou o Reino da Noruega durante sua ocupação pelos infames nazistas, com quem colaborou ativamente — e a quem serviu com absoluto e vergonhoso servilismo — na condição de ‘StatsMinister’ (Ministro-Presidente ou Primeiro-Ministro)!

Seu nome, como bem apontado em seu texto, tornou-se sinônimo de ‘traidor’, pelo comportamento desleal e desonroso com que vilipendiou sua Pátria!

Com a derrota militar do Terceiro Reich alemão, foi executado pelos patriotas noruegueses! ‘Sic semper tyrannis’!

MAIS DO QUE NUNCA, é preciso identificar e expor os ‘quislings’ nacionais que agem, insidiosa ou explicitamente, contra os superiores interesses do Brasil e do seu Povo!

CUMPRIMENTO-O, eminente Dr. MARCUS VINICIUS, PELA EXCELÊNCIA DE SUA OPORTUNA E VALIOSA MANIFESTAÇÃO!

Com a minha cordial saudação, CELSO DE MELLO”.

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