domingo, 9 de maio de 2010

Os músicos precisam de alguém pra chamar de "o cara'", diz Henrique Dourado.


ANA PAULA SOUZA,
Folha On Line

Sensíveis, as cordas dos violinos talvez estranhem a brisa do mar. Afeitos ao silêncio, os músicos da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) talvez se inquietem com os ruídos urbanos da Estação da Luz, onde será erguido o palco da Virada Cultural. Mas ambos, instrumentos e músicos, terão de se acostumar.
As apresentações ao ar livre, no centro de São Paulo, no próximo dia 16, e na Praia do Gonzaga, em Santos, em dezembro, são simbólicas de um movimento que, compasso após compasso, faz com que a Osesp se desencastele. Abrigada, desde 1999, na solene Sala São Paulo, em plena cracolândia, a orquestra, durante dez anos, manteve-se de olho, sobretudo, nos assinantes e no exterior.

Apenas em 2008, quando a queda de braço entre o regente John Neschling e o então governador José Serra tornou-se pública, o Estado passou a exigir que os concertos tivessem como destino não apenas Augsburg (Alemanha) e St. Gallen (Suíça), mas também Itapetininga e Piracicaba. Nascia, assim, a itinerância que, neste ano, inclui nove cidades e, pelo visto, tende a crescer.
Marcia Ribeiro - 27.mar.09/ Folha Imagem/Folha Imagem
Osesp se apresenta em Ribeirão Preto, sob comando do regente Marcelo Lehninger, dentro de projeto de itinerância da orquestra
Osesp se apresenta em Ribeirão Preto, sob comando do regente Marcelo Lehninger
O contrato de gestão que regula o repasse de verbas do Estado para a Fundação Osesp completou cinco anos e está prestes a ser renovado. Pelo que a Folha apurou, uma das exigências feitas pela Secretaria da Cultura é a de que a orquestra aumente o número de apresentações populares.
"Essa é nossa obrigação", diz Arthur Nestrovski, que assumiu em janeiro a direção artística. "Sempre que toca ao ar livre, a Osesp parece um fenômeno pop. Em Araraquara, havia 15 mil pessoas na praça."
Se, a pedido do governo, Nestrovski tem de levar a orquestra aonde o povo está, por vontade própria tentará botá-la em outros ambientes culturais. O quarteto da Academia da Osesp tocará no show de abertura da Flip e na Bienal de SP.
"Toda grande orquestra do mundo se integra com a comunidade", diz Henrique Dourado, ex-músico da Osesp e diretor do Conservatório de Tatuí. "Parece que a Osesp tende a seguir esse caminho. Esse é um bom sinal neste novo momento da orquestra." E qual seria o mau sinal? "Ela vive um intermezzo que deixa todo mundo inseguro", diz referindo-se à fase pós-Neschling.
Contratado às pressas, o francês Yan Pascal Tortelier foi efetivado no cargo de regente-titular em dezembro de 2009. Alguns músicos dizem, porém, que, apesar de pacificado o clima, a orquestra se sente órfã de mãos mais fortes. E presentes. Tortelier passa dez semanas por ano no Brasil. "Os músicos precisam de alguém pra chamar de 'o cara'", diz Dourado.

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