terça-feira, 22 de novembro de 2016

poesia / Odimar Martins

O HOMEM QUE APAGAVA ESTRELAS

Odimar Martins

Meu tio permaneceu por muitos anos,
depois de si mesmo: no barulho do portão,
no toque das balas de alfenins nos lábios.
- fartamente distribuídas aos sábados.

Por dias, fiquei na janela, olhando
o caminho por onde vinha,
com suas botas longas, histórias longas
e uma vida egoistamente curta.

Seu calçado cansado, pelo percurso
dos seus causos, pelo pó impregnado
nos seus contos, do cheiro morno
dos lugares por ele visitados.

Chovia, e no transparente do vidro,
a janela ganhou tons de mármore,
correu pelo meu rosto como notícia,
e onde estava você, eu não poderia estar.

Algumas estrelas não existem mais;
só permanece o brilho de sua existência,
percorrendo o tempo e o espaço
até atingir a lâmina dos seus olhos.

 A vida é poesia que se permite escrever
nas palavras anônimas, na alquimia das coisas,
nas verdades sem importância, na relevância íntima,  
quando se perde aquilo que nem se sabia existir!

Meu tio conhecia o tempo
pela experiência de usar os minutos,
nem tão cedo, nem tão tarde, no ponto
de se fazer sentir a distância.

“Carpe diem”.
Existem diversos “ontens”
e possíveis “amanhãs”.
E um único “hoje”...

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