domingo, 17 de dezembro de 2023

poema | Palavras de Fundo (Cristina Siqueira)

Palavras de fundo

(Cristina Siqueira)

Imagem / Cristina Siqueira


E contudo assombra-me
Um vazio no peito
É noite
Brisa carícia
Noite, noite
De onde estou não vejo estrelas
Eu as sei mas não as vejo
O perfume forte da dama da noite
Chega pelo ar
A realidade é opressora
Lá fora não é aqui dentro
Over mundo pressiona o peito
Em não existência
A irrealidade roubou a essência humana
Viver é ficção
( - O que significa a vida ?)
A compreensão da vida é para uma vida.
O homem se perdeu
Na busca de si mesmo
Perdeu a si e ao outro
Amor é palavra vaga
Não tem mais a ver
Com olhos mergulhados em olhos
Bocas para o profundo estar
O beijo nascido do desejo
De ao outro se entregar
Lábios que sugam alimento
O encontro começa pelo olhar
O desejo completa-se na boca
Não está na pauta dos tempos
que correm o prazer de simplesmente estar
Perdeu-se a graça
E o poder de encantar
Preenchida pelo silêncio
Ouço grilos e vejo luzes pirilampas
A onda do mundo
Me pegou num arrastão
Esta angústia que nem o sol espanta
Dias de cura em doses homeopáticas
Conversa com o Santo Anjo da Guarda
Os pés à beira mar
Redondilhas de ondas miúdas
Sinto falta nem sei de que
se tenho tudo.
- Medo ?!?!
De perder a conexão do amor
A falta de reciprocidade
Não sei se espero demais
ou de menos
Sei que não devo esperar
- Onde me situo ?
Creio que sinto mesmo é saudade sem endereço certo.
- Onde está o futuro do passado?
- O presente que mal se escreve, apaga ?
Em tudo tem tanta beleza
A natureza é harmônica e vivemos anestesiados
Entorpecidos pela alta velocidade
que precipita os fatos
Avoados perdendo coisas
Devo guardar o essencial
A consciência
Quando oro
Anjos me preenchem
Num instante torno-me
A leve menina
Distraída
Na imaginação
Ouço “ Luar do Sertão “
Tem pai e mãe
Viola que chora e acende meu coração
O latãozinho de leite gordo
O tropeço na pedra do caminho
A fábula de Monteiro Lobato
A barranca do rio
O rachado na lama
Há seca
Ou
O tempo chora convulsivamente
Inunda o espaço
Alaga
A saúde da terra no mato intocado
A bulha dos passos mansos
Adentrando ao sagrado
Ali havia um rio
Colhemos jaca e foi uma festa
Pena que tinha mutuca
O vale intocado, espraio o olhar
Atrás do Morro dos Segredos
Quando cozinho, oro
As ervas tem alma e perfumam
Atiçam o sabor
Viva. viúva de um outro tempo
Que passou
Vejo estrelas na água que ferve no fogão
Varro sapos e lagartixas
Para fora, onde o quintal chama
E o gato espera
Não sou o que penso que sou
Escapo por um buraco no céu
Fico tonta e danço
Giro do dervixe
Me entorpeço de espaço
E crio para estar com Deus
E o ouço no céu e no mar
Assim o tempo acontece
O nada é tudo
A entrar na realidade
A vida é só o que passa
Queimo
Na lenha do corpo e alma
A pequenez do meu ser
E nada sou
Livre éter
Sem fronteiras
Nas linhas da mão o traço é luz
Ilumina o silêncio
Clareia o mistério
Trabalho a sombra
E me refaço
Mesmo assim estou em falso
A menina que fui envelheceu

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