JÁVIER GODINHO
DIÁRIO DA MANHÃ - Do nosso livro de leitura quando, adolescente, estudávamos interno no Colégio Diocesano de Uberaba, uma página permanece-nos na memória praticamente indelével: O homem mais rico de minha terra, de Paulo Setubal. Este autor, nascido em Tatuí, São Paulo, esbanjava talento e colecionava sucessos no manuseio da pena coruscante, como advogado, jornalista, ensaísta, poeta e romancista, que lhe conferiu a imortalidade na Academia Brasileira de Letras.
O homem mais rico de minha terra era o relato da vida de seu Chico Pereira, descrito por ele como alguém que ficara ruim do juízo. Não cuidou de sua fortuna, nem a colocou a render juro em mão de fiança.
Antes, andou pelos bairros pobres de sua cidade. Viu os que tinham a panela vazia sobre o fogão apagado. Os que não tinham onde se abrigar nos dias de chuvarada. E seu Chico deu o seu dinheiro aos pobres. Deu-o evangelicamente, sem que os jornais trouxessem notícia, pois ele bem sabia o que estava escrito naquele livro amarfanhado, que ele lia há 50 anos (Mateus, 6,2): “Quando deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa”
Quando terminou o último tostão, ele foi morar com seus beneficiários, com os quais passou o resto de seus dias convivendo com as privações que eram de todos, acumulando riquezas onde a ferrugem não corrói e os ladrões não roubam.