domingo, 28 de janeiro de 2018

crônica /Ana Moraes

O Presente

De mãos em mãos, perambula o sagrado até chegar à exclusiva pessoa, felizarda pela sua surpresa. Viagens pelo mundo, adentrando países, imergindo em estados, migrando em cidades, rodeando pelas ruas, encontrando seu destino recheado de anseios.

O mais importante para impactar as emoções é o embrulho. A membrana que envolve aquele conteúdo, escondendo-o do resto do Universo, tornando-o único. O embrulho assume os mais variados feitios: mole ou rígido, amorfo ou simétrico, pequeno ou grande, bidimensional ou tri, preto e branco ou colorido e assim segue as variâncias desse personagem que oculta dos outros segredos e possíveis emoções incomensuráveis.

No interior desse embrulho, há o segredo que pode mudar o destino. Se aberto, o destino toma um rumo. Senão, toma outro. Desta forma, a responsabilidade do embrulho é essencial para a essência do presente. Como um ser intermediário, guardião de algo que pode mudar o futuro das coisas. Abrigando em seu âmago a constituição das mais variadas emoções, que adormecidas em seu seio, esperam seu tempo para se manifestarem com regozijo.

A palavra presente é embebida em chumbo o que a torna densa no seu existir. A reflexão sobre esse verbete é mais importante do que qualquer coisa. Pois o presente dado a alguém, demonstra o sentimento daquele presente. Desenrolando o tempo, o presente se torna lembrança e, consequentemente, passado. No entanto, já cumpriu seu papel, mudando o futuro.

Dentre os maiores presentes de nossas vidas, está o próprio presente que nos chega a todo momento sem nenhum embrulho. Chega seco e insípido, sem quase tempo para degustá-lo. Quando se percebe, já passou. Passa rápido, sem dar “bom dia” ou “boa noite”. Vai passando como uma locomotiva dos mais variados vagões sobre o trilho eterno do tempo, sem voltar atrás. Na nossa limitada existência carnal viajamos por várias estações à outra, onde em umas, alguns findam suas viagens e outros adentram inocentemente sem saber para onde esse trem os levarão, da mesma maneira que seus antigos passageiros.

Nos variados vagões viajam os mais diversificados e antagônicos personagens abstratos: o amor e o ódio; o prazer e a dor; a felicidade e a tristeza; a coragem e a covardia; e todos os demais sentimentos que, se não os conheces, os conhecerá. Quase ia esquecendo, como normalmente nós, humanos, fazemos: lá no último vagão viaja a tranquila e serena esperança. Se por acaso tu caíres do trem, é ela quem te recolherá, pois ninguém pode ficar para trás até cumprir o seu necessário trajeto nessa adimensional viagem.

Mas há um porém, na coexistência desta efusão sentimental, basta que tenhamos discernimento e compreensão quando entrarmos em cada vagão, para escolhermos com quem nós sentaremos. Tudo depende de nossas atitudes e atos.

O mais estranho é que todos que viajam parecem não conhecer o Maquinista desse trem. Mas todos possuem a leve sensação, mesmo que mínima, de que Ele está lá, lá na frente. Conduzindo o nosso caminho pelas plácidas planícies ou pelas sinuosas serras gigantescas; pelo reluzir do belo Sol ou sob a amedrontadora tempestade que torna plúmbeo e carregado o azul celeste.

Assim, vai o Presente que nos é presenteado todos os dias, um presente dado por Alguém, que muitas vezes esquecemos ou mesmo não queremos agradecer. Mas permanece a inevitável pergunta: melhor seria o Presente com embrulho ou sem?


A.M.O.R.
(Ana Moraes de Oliveira Rosa)

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