domingo, 6 de fevereiro de 2011

Peças curtas de Samuel Beckett sustentam reflexão sobre o teatro pós-dramático


A atriz Vera Holtz abre a temporada nesta sexta-feira na Funarte com Balanço: personagem em ato poético

28/01/2011
Do Correio Braziliense
Mariana Moreira

Nas três últimas décadas, o texto dramatúrgico deixou de reinar absoluto nas montagens teatrais e passou a dividir os holofotes com o teatro pós-dramático — casamento entre atores, palavras e estímulos diversos. É a vertente escolhida pelos diretores Adriano e Fernando Guimarães para uma temporada de 60 dias na Funarte, com direito a peças de teatro, diálogos com estudiosos, performances e oficinas. “Queremos levantar a poeira, traçar um panorama sobre o assunto”, informa Fernando, sobre o projetoTeatro visual: o que ainda não tínhamos visto?.

Neste primeiro fim de semana, a agenda vem recheada de um assunto que os irmãos pesquisam há quase 15 anos: a obra do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. “Nós o consideramos um precursor dessa tendência. Na década de 1960, suas peças já traziam elementos pós-dramáticos”, conta Adriano.

Foram escolhidas peças curtas, com duração de 10 e 18 minutos. Nesta sexta-feira (28/1), às 20h, será a vez de Balanço, com a atriz Vera Holtz: “Ela não quer mais se balançar, quer que pare o movimento da vida. Com a respiração, faz seu último ato poético e dramático”, explica Vera.

Amanhã, também às 20h, os atores Bruno Torres, Leandro Menezes e Diego de León, do Núcleo de Pesquisa Resta Pouco a Dizer encenam Respiração menos, uma concepção dos Guimarães para investigar o papel pouco convencional dos atores nesse tipo de montagem. Na encenação, um ator entra em um cubo de acrílico fechado e a escassez de oxigênio altera sua performance.

No domingo, Beckett volta aos holofotes, com a adaptação da peça Ir e vir. A história de três mulheres presas em um círculo de mistério será vivida por Camila Evangelista, Michelly Scanzi, Tati Ramos e Valéria Rocha, atrizes do Núcleo.

“Os espetáculos não têm um sentido fechado. No fundo, essa instabilidade resume a forma como Beckett via a humanidade”, conclui Adriano Guimarães. Cada apresentação será sucedida por uma roda de diálogos. Hoje, logo após Balanço, os espectadores poderão conversar com Fábio de Souza Andrade, professor da Universidade de São Paulo (USP) e um dos tradutores da obra do dramaturgo para o português. Amanhã, Antônio Araújo, diretor do Teatro da Vertigem, tratará da relação entre encenação e performance. No domingo, Lílian Amaral fala sobre a interterritorialidade no campo artístico. No projeto, ainda estão previstas oficinas e leituras.

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