domingo, 1 de maio de 2011

A música no tempo e no espaço

por RAYMUNDO FARIAS DE OLIVEIRA
Jornal O Progresso de Tatuí,  edição de 17.04.2011

“A música é uma linguagem poética mais apta do que a própria poesia para exprimir o que atinge as profundezas inacessíveis”.

Ao ouvir (mais de uma vez) o CD gravado pelo “Grupo Choro Vivo e Amigos”, com 17 faixas de choros e valsas de autores de Tatuí e região, senti-me atingido nas “profundezas inacessíveis” de que fala Liszt no parágrafo com que inicio este pequeno comentário.

O disco é fruto de um longo e paciente trabalho de pesquisa liderado por Francisco de Souza Bueno, o popular Pacheco, em busca de autores e músicas ao longo do tempo, aqui em Tatuí, Porangaba, Boituva, Araçoiaba da Serra, Quadra, Cesário Lange, Mailasqui, Iperó e Pereiras. A música no tempo e no espaço. Claro que existe muita valsa e choro ainda inéditos por aí. Não cabem num CD. É preciso uma discoteca.

Bandolins, flautas, clarinetas, saxofone, baixo, violão e cavaquinho, cada instrumentista com sua linguagem, nos arrebatam para o mundo mágico das valsas e dos choros, melodias e harmonias de um tempo calmo, lírico, inocente. Um estilo que marcou época, Tempos de serenatas docemente vividos por Bepe Del Fiol (Serenata Veneziana), Mirto da Flauta (Izabel), Teté (Luar de São Borja), Pedrinho Nogueira (Saudade de Minha Mocidade), Eurico Santos (Ermelinda), Bimbo Azevedo (Teu Olhar)...

Valsas e choros se intercalam numa belíssima sequência como que para temperar ritmos e emoções nas 17 faixas. Mutações embalando nossos corações.

Tiago (bandolim), Roseiro (violão 7 cordas), Bob (pandeiro), Henrique (flauta) e Pacheco (cavaquinho) formam o quinteto maravilhoso justamente chamado “O Grupo Choro Vivo”. E por ser “vivo”, escolheu muito bem os amigos convidados para enriquecer a bela e histórica gravação.

Um plêiade de músicos, entre eles professores (o Prof. Coelho), todos merecidamente afamados no meio musical e acadêmico, aderiu ao magnífico projeto (que contou com patrocinadores), e o resultado aí está para quem quiser ouvir e meditar. Um documento que enaltece a história da cultura musical de Tatuí e região. Aguça nossa sensibilidade. Traz ao nosso coração a terna lembrança de tantos que já se foram e que deixaram, no universo inefável da arte, a marca do talento poético e musical de cada um.

Viajei nas asas da saudade, ouvindo flautas, saxofone, clarinetas e bandolins solando composições de queridos amigos de sereno que já partiram... O possível leitor destas linhas há de compreender minha emoção aqui registrada, nesta hora avançada da noite, a chuvinha mansa nos convidando para o repouso. Está “chovendinho”, como se diz em Tatuí. Bom sono a todos.

Tatuí, 03.04.2011

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